4 de ago. de 2010

Em algum lugar onde não estive...

Antes de tudo e qualquer coisa, venho informar a senhora amiga leitora, que os fatos humildemente narrados aqui são todos produtos de uma realidade paralela, onde eles foram totalmente criados na mente turva de uma criança que aprendeu cedo demais as desventuras de um amor. Um bilhão de perdões se falha os detalhes ou se deixarei de contar uma ou outra cousa, mas sucede que são memórias de um acontecimento nunca acontecido, por isso há mais emoções do que ações propriamente ditas. Hei de começar antes que perca o interesse por minhas palavras...

"Nossa! Ouviu isso?"
"Não, o que?"
"Chegue mais perto... Mais um pouco... Perfeito. Escuta agora?"
"Ainda não"
"Silêncio e se concentre... Ai, pode escutar?"
"Acho que sim... Ouvi uma batida lenta e ritimica, parece... Parece um coração"
"Exatamente!, meu coração. Sabe o que ele esta dizendo?"
"O que?"
"Que você é a unica garota por quem ele bate."
"..."
"Ok, devo ter ido rápido demais e..."
"Eu te amo"

Eu estava parada em frente aquele nosso banco que ficava bem no interior da pracinha próxima a minha casa. Pobre praça, pobre banco que outrora fora devidamente envernizado e bem cuidado, hoje é descascado, suas madeiras podres e rachadas, desgastado com o tempo, como as memórias que tive ao chegar até aqui. Meus dutos lacrimais reclamaram perante a lembrança que eu afastara havia tanto o tempo da minha mente.
Já se passaram seis anos... Seis anos, não há motivo para lágrimas, sua estúpida. Limpei meu rosto com a costa das mãos, mas era impossivel não ceder, era tudo tão intimo, tão presente, tão passado... Cai de joelhos perante a lembrança e me enrosquei em minha própria mente, infame mente que vim evitando dês que tive que me mudar daqui. Dobrei meu corpo sobre o banco, como fazia quando mais nova, chorando todas as lagrimas que um dia já havia cansado de chorar. Senti passos em minha direção, pareceu parar ao meu lado, a voz que chegou aos meus ouvidos foi forte e penetrante, ninguém que eu conhecia tinha uma voz daquelas. Apenas talvez o avô dele.

- Olha, várias pessoas dizem que o estado dessa praça é penoso, mas alguem chorar por conta de um banco é raro de se ver. - Não ergui a cabeça, ao contrario afundei meu rosto contra meus braços.
- Se me permite, gostaria de sofrer sozinha.
- Sofrer sozinho não é bom, acredite em mim. - Apertei as mãos contra meus braços, minha garganta implorava para um desabafo, talvez aquele estranho não fosse só uma peça fora do meu quadro perfeito.
- O dia de hoje a anos atras, nesse banco, nessa praça, um casal se apertava, se beijava, e a garota dizia que o amava. Ai o garoto a olhava nos olhos com uma profundidade que ela jamais pensou que pudesse existir e disse: "Você é tudo que eu tenho, pequena. Eu não vou te trocar por nada nesse mundo". Uma semana depois, nesse mesmo banco, nessa mesma praça...

"Não faz assim, por favor..."
"Você não esta entendendo! Disse que ficariamos juntos, disse que apesar de tudo ficariamos juntos! Você disse que não me trocaria!"
"Entenda, é meu sonho..."
"Ficar comigo era seu sonho!"
"Me espere, por favor, eu não vou demorar!"
"Claro, porque servir ao exército não vai tomar nada do seu tempo!"
"Pequena, você esta sendo irracional. Eu te amo"
"Eu tambem te amo, não quero te perder."
"Você não vai!"
"Tarde demais, é a guerra ou uma mulher, você sabe disso..."
"Eu volto! EU VOLTO!"
"Menino, não grita!... Não, me solta!"
"Olhe para mim então! Uma ultima vez!"
"..."
"Eu te amo, não se esqueça disso, você é a mulher da minha vida..."

...Eles trocaram o primeiro ultimo beijo e ele foi embora" - voltei a chorar descontrolada, ele tocou o topo da minha cabeça e eu senti meu corpo aceitando automaticamente o carinho.
- Bonita história a sua... Eu tenho uma diferente, quer ouvir?

Levantei minha cabeça, mas continuei encarando o banco, sua mão quente segurou meu queixo e eu senti todas minhas terminações nervosas se movimentarem implorando por mais toque, meu corpo de repente se tornou sedento do homem sem rosto. E eu virei o rosto e algo me acertou fortemente no estomago.

- Um homem, uma vez rapaz, solitário, com um ferimento de guerra veio cambaleando em sua bengala visitar o parque, uma lembrança intima e descartavel, porém tão presente que ele não poderia evitar. Todos os anos dês de que voltará ele vinha e se sentava aqui e chorava tudo o que podia, tudo o que deveria ser chorado. Então em um dia como este ele chegou e encontrou uma mulher se desfazendo em prantos em seu banco e sentiu raiva. Ninguém poderia chorar onde ele chorava, aquele banco era dele e da mulher de sua vida. Então resolveu ser irônico, porem a voz da mulher o pegou de surpresa e quando sentou ao seu lado pode sentir o perfume natural dela invadir seu cérebro e ele não pode acreditar, suas lembranças se misturavam a tudo que já vivera. Agora está aqui de joelhos, o ferimento protestando contra a posição, mas ele não se importa com a dor. Ele encontrou, ele encontrou a garota que ele procurava todos os anos dês que voltou da guerra.

Eu tremia, eu o escutava e não acreditava, como ele mudara, porém seu rosto podia ser visto por baixo da mascara de homem que se instalara no rapaz de 18 anos, há tempos atrás. Encontrei minhas mãos contra sua boca quando ele terminará de falar, fechei os olhos e senti seu halito nas pontas de seus dedos, eu continuava chorando, aquilo era no minimo impossivel, ainda mais para alguém que deixará seu "final feliz" para trás. Era ele, eu sentia a consistência de sua pele e meu corpo se juntava inevitavelmente contra o dele, reconhecendo o desejo juvenil, implorando pelo toque antigo, suas maos grandes embalaram minha cintura como a seis anos atrás e ele apertou sua boca contra minha mandibula. Suas lagrimas caiam sobre meu peito, curando todas as cicatrizes, toda as feridas, não havia dor, não havia mais uma lacuna em meu peito, eu estava completa. Eu apertei seus musculos contra meu corpo frágil e ele procurou minha boca, nos olhamos diretamente, minha visão atrapalhada pelas lágrimas, mas eu reconheci o sorriso do meu menino, o sorriso largo e brilhante que só ele saberia dar quando queria um beijo meu.
Então o beijei e meu mundo girou. Tudo estava claro, tudo estava queimando, meu corpo perderá peso em massa, estava completamente dependente daquela boa se movendo lentamente sobre a minha. Talvez finais felizes existam, talvez essa seja a minha decha de ter meu era-uma-vez completo, como nos livros que eu deixara de ler.
Tudo como seis anos atrás...


(Ter um pouco de crença pessoal, de esperança, de coragem, de felicidade, as vezes não faz mal a ninguém. Quisera eu ter vivido traços assim, quisera eu ter mais que sonhado essas linhas, quisera eu ter encontrado você hoje seis anos depois, ou antes no banco da praça...)

2 comentários:

  1. Isso me fez recordar histórias. A intensidade de suas palavras quase me fez chorar...


    Beijos!

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  2. Como você consegue? São palavaras fortes em um texto impecável, amei *------------* Parabéns Lara :)

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